AFIRMAÇÕES
DO
GENERAL GOMES DA COSTA
ACERCA DO LIVRO
"EPOPEIA MALDITA"
ESCRITA POR ANTÓNIO DA CÉRTIMA
(...) Dizia Stendhal, que a arte de mentir se aperfeiçoara muito no seu tempo; que diria ele se hoje aparecesse nesta nossa boa terra de Portugal? Porque, mentir, passou a ser uma necessidade entre nós, desde que se criaram as clientelas para apoio de um chefe que lhes dê de comer. A mentira adopta, agora, formas vagas, genéricas, vesgas, imprecisas, difíceis de incriminar e, sobretudo, de refutar (...)
(...) Todos fingem pretender que só se diga a verdade, mas quando alguém de coragem a revela, todos lhe saltam em cima, injuriando-o, abafando-o, repelindo-o. Numa Nação de iletrados, onde a opinião pública é representada por dois ou três jornais politicos, a Verdade anda escondida pelos cantos, e só muito tarde se resolve aparecer (...)
(...) Quando algum fracasso ocorre, não hesitam em atirar com as culpas para cima dos outros; e é este o caso da guerra, e particularmente da guerra de África, em que se procuram atribuir culpas do tremendo desastre aos pobres dos soldados e aos graduados inferiores. Cheia de verdade é "A EPOPEIA MALDITA", e por isso mesmo tem esse livro raro valor. A miséria que descreve, escritor algum seria capaz de as inventar (...)
(...) O que se passa em África foi o mesmo que se passou em França, apenas com a diferença de nesta se não sentirem privações - graças à administração britânica; porque se estivessemos entregues a nós mesmos, a catástrofe teria sido horrorosa (...)
(...) Em África, vemos os chefes e a sua claque, na base, comendo, bebendo, passeando, gozando, estendidos nas preguiceiras de verga, abanados pelos moleques, tomando limonadas ou "whisky and soda" bem gelados; o resto, a canalha, os párias - rotos e sujos, debaixo dum sol de inferno, sem pão, sem água, sem medicamentos, atolados nos lodos do Rovuma, trocando tiros com o inimigo pela honra de uma Pátria cujos destinos estavam nas mãos de inconscientes, ou ignorantes, ou perversos (...)
(...) Mas no fim, ao terminar a guerra, aparecem, numa evidência balofa, os videirinhos, assaltando os lugares de rendimento, reforçando as clientelas dos deuses de ocasião, cobrindo-se uns aos outros de condecorações e afastando os que poderiam incomodá-los, caluniá-los,e, entre estes, até os pobres mutilados, que eles só aproveitam para os explorar em exibições públicas, colocando-os à sua frente (...)
(...) O livro "A EPOPEIA MALDITA" é a reacção salutar contra a mentira de África, é um livro de coragem absoluta, é um livro de Verdade! Porque, os que, como eu, viram em Mocímboa da Praia, ao terminar a guerra, as montanhas de pneus, os centos de automóveis, os rios de águas minerais e de vinho, as máquinas de toda a espécie, algumas das quais nem tinham quem delas se soubessem servir; os refrigeradores, as toneladas de víveres que, estragados pelo tempo, tiveram de ser atirados ao mar, indo envenenar o peixe da baía; as cruzes de pau dos cemitérios, abandonados, dos nossos soldados; quem viu tudo isto, é que pode compreender bem o que é "A EPOPEIA MALDITA", e revoltar-se contra a inépcia, incapacidade, incúria, desleixo, estupidez e desumanidade dos que, com os meios de acção mais poderosos que nenhuma outra expedição portuguesa teve em África, deixaram devastar e destroçar à fome e à sede, esses pobres soldados de Portugal! (...)
(...) Mentira! Tudo Mentira! Ninguém quer a Verdade, porque a Verdade, como a luz, ofusca essas aves sinistras que se governam a si, fingindo governar a Nação. Políticos da força dos básicos de Mocimboa da Praia, comendo e bebendo em repetidos banquetes, sem que lhes perturbe as digestões a lembrança dos que a esta hora dormem nos cemitérios de França e de África, vítimas da sua incapacidade e da eterna falta de preparação do exército (...)
(...) Mentira só possível num País onde o Povo, bestializado por uma secular vida de submissão, consente que o crucifiquem sem soltar, sequer um grito. É esta a lição que se tira da leitura deste livro soberbo de Verdade, escrito por quem viu e sentiu bem a guerra em todo o seu horror!(...)
Gomes da Costa
General
Coorden. do texto: marr
Atravessar o Rovuma Colecção particular |
(...) Mas no fim, ao terminar a guerra, aparecem, numa evidência balofa, os videirinhos, assaltando os lugares de rendimento, reforçando as clientelas dos deuses de ocasião, cobrindo-se uns aos outros de condecorações e afastando os que poderiam incomodá-los, caluniá-los,e, entre estes, até os pobres mutilados, que eles só aproveitam para os explorar em exibições públicas, colocando-os à sua frente (...)
(...) O livro "A EPOPEIA MALDITA" é a reacção salutar contra a mentira de África, é um livro de coragem absoluta, é um livro de Verdade! Porque, os que, como eu, viram em Mocímboa da Praia, ao terminar a guerra, as montanhas de pneus, os centos de automóveis, os rios de águas minerais e de vinho, as máquinas de toda a espécie, algumas das quais nem tinham quem delas se soubessem servir; os refrigeradores, as toneladas de víveres que, estragados pelo tempo, tiveram de ser atirados ao mar, indo envenenar o peixe da baía; as cruzes de pau dos cemitérios, abandonados, dos nossos soldados; quem viu tudo isto, é que pode compreender bem o que é "A EPOPEIA MALDITA", e revoltar-se contra a inépcia, incapacidade, incúria, desleixo, estupidez e desumanidade dos que, com os meios de acção mais poderosos que nenhuma outra expedição portuguesa teve em África, deixaram devastar e destroçar à fome e à sede, esses pobres soldados de Portugal! (...)
Artilharia de montanha Colecção particular |
(...) Mentira! Tudo Mentira! Ninguém quer a Verdade, porque a Verdade, como a luz, ofusca essas aves sinistras que se governam a si, fingindo governar a Nação. Políticos da força dos básicos de Mocimboa da Praia, comendo e bebendo em repetidos banquetes, sem que lhes perturbe as digestões a lembrança dos que a esta hora dormem nos cemitérios de França e de África, vítimas da sua incapacidade e da eterna falta de preparação do exército (...)
(...) Mentira só possível num País onde o Povo, bestializado por uma secular vida de submissão, consente que o crucifiquem sem soltar, sequer um grito. É esta a lição que se tira da leitura deste livro soberbo de Verdade, escrito por quem viu e sentiu bem a guerra em todo o seu horror!(...)
Gomes da Costa
General
Coorden. do texto: marr
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