terça-feira, 20 de março de 2012

CORPO EXPEDICIONÁRIO PORTUGUÊS (C.E.P.) A FRANÇA 1917/1918

O SOLDADO PORTUGUÊS EM FRANÇA



O Cabo "Sementes"
Cliché de Garcez
In: Portugal na Grande Guerra
do General Ferreira Martins
"Quando hoje se ouve dizer, - os soldados são excelentes,- não é isto um simples cumprimento: são-o realmente. Há neles alguma coisa grande e de belo sob a sua casca rude; a sua delicadeza é toda interior. Pertencendo à categoria dos "incultos, rudes, mal educados, sem preparação, sem maneiras", é nesta vida selvagem da trincheira que mostram o que são e o que valem; - verdadeiros
tesouros sem baixeza nem crueldade. Espreitam o alemão pela ranhura de mira da alça e metem-lhe a bala na cabeça, se o "boche" cai em a meter na sua linha de mira; mas se um "boche" que o fere, levanta em seguida, ferido também, as mãos, agarra nele, leva-o à ambulância, cura-o, dá-lhe o seu pão, dá-lhe o seu vinho, dá-lhe a sua camisa.

Devemos todos inclinar-nos cheios de respeito e cheios de admiração diante deste pobre  "gambúzio", que meteram num navio com uma arma às costas, sem lhe dizerem para onde ia; que colocaram numa trincheira diante do "boche", sem lhe dizerem por que se batia; que passou meses queimado pelo sol do fogo, enregelado pela neve, atascado em lama, encharcado, tiritando com frio, encolhido num buraco enquanto as granadas lhe estoiram em redor; carregando à baioneta quando o "boche" avança e que, com uma perna partida, ou o crânio amachucado por uma bala, estendido no catre da ambulância, ao ver-nos, tinha uma alegria imensa no olhar, murmurando:
    -  O nosso giniral! Aí vem o nosso giniral!
    - Oh meu giniral, agora ganhei a Cruz de Guerra? Pois não?

                                                                                             (Colecção particular)

E nunca me há de esquecer a impressão que um destes pobres seres me causou, quando, ao pregar-lhe a Cruz na camisa da ambulância que vestia, o pobre, não podendo mexer os braços, ambos partidos, estendeu a cabeça e me beijou as mãos...

E outro, muito pequeno, a quem ao dar-lhe o abraço que era costume meu dar àqueles que recebiam a Cruz de Guerra, me abraçou pela cintura e ali ficou preso numa convulsão...

São verdadeiros tesouros, que não podemos deixar de estimar e admirar depois de com eles viver na guerra. E é por isso que natural e instintivamente, os que como eu compreendem põem na continência, com que à sua correspondem, um respeito real e sincero, que está fora dos nossos hábitos.

E há resmungões no meio de isto tudo, porque resmungar é uma paixão do soldado, ou por outra uma distracção, quando tudo corre bem! Pelo contrário, quando tudo vai mal, ninguém resmunga.



                                                                                                  (Colecção particular)

Ao terminarem um parapeito, com toda a perfeição, a terra varrida à vassoura, os taludes bem direitos, as arestas bem vivas, vem um morteiro pesado e esmaga tudo.

O bom do "gambúzio" olha para a sua obra de oito dias destruída, e resmunga:
     -  Ora, responde outro, isto é bom para não engordarmos muito.

A noite é escura, o frio aperta, os homens estão cobertos de lama gelada, o seu dia de trabalho destruiu-o o "boche" num minuto, é preciso recomeçá-lo; e, sem mau humor, recomeçam-no.

Era preciso uma pena fácil e elegante para mostrar a todo o Portugal quanto valem os nossos soldados e quanto merecem que por ele façam.


General Gomes da Costa
(Colecção particular)

A morte, encaram-na de frente e rindo, e em cada minuto da vida de trincheira praticam actos de generosidade, desprendimento e heroísmo espontâneo, que na vida civil estabeleceriam reputação."

                                                          Gomes da Costa
                                                                 General
                                      Comandante da 1.ª e 2.ª Divisão do C.E.P.

Coorden. do texto: marr


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